quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Terceira idade: tempo de aposentadoria sexual?

A crença de que há um momento da vida em que, em decorrência da idade, o desejo simplesmente acaba, alimenta preconceitos sobre as alterações fisiológicas próprias do processo de envelhecimento e alimenta tabus

A sexualidade é ainda hoje um tema que provoca muitos conflitos para a maioria das pessoas e quando falamos em sexo na terceira idade os mitos e tabus associados são ainda maiores. Acredita-se que tanto homens como mulheres ao chegarem a determinado momento da vida deixarão de ter desejo e, consequentemente, vida sexual. Tais crenças alimentam-se, em grande parte, da ignorância sobre o funcionamento sexual e das alterações decorrentes de processos fisiológicos inerentes ao envelhecimento.

O envelhecer é uma mudança constante e gradual que afeta os indivíduos de maneira integral, modificando seu corpo, seu psiquismo e a forma como se relaciona com todos ao seu redor. Obviamente, sua vida sexual também se transforma, mas não deixa de existir.

Umas das principais mudanças relativas a esse processo é a queda do nível de hormônios. Este fenômeno, no caso das mulheres, é conhecido como climatério e pode provocar sintomas, como irregularidade dos ciclos menstruais, incontinência urinária, ondas de calor, alterações de humor, diminuição do desejo sexual, ressecamento e menor elasticidade vaginal. Essa fase se encerra, mas não necessariamente seus sintomas, quando a menopausa marca o fim da fertilidade feminina.



No caso do homem, a capacidade reprodutiva não se extingue, porém a baixa de testosterona, conhecida como andropausa, pode levar a uma redução do desejo sexual, uma menor capacidade de ereção, diminuição da produção de esperma e decréscimo na intensidade da ejaculação. O idoso experimenta um período refratário mais longo, necessitando de algumas horas para conseguir, se assim desejar, uma segunda ereção. Todo o processo de excitação sexual, feminino e masculino, tende a ser mais lento à medida que a idade aumenta. É preciso uma estimulação direta, mais duradoura e intensa para que ocorra a ereção e a lubrificação vaginal.

É natural que este declínio no vigor físico nos leve a crer que não existam mais condições para o ato sexual - o que é um grande engano, pois há surgem novas formas de viver a sexualidade. Se antes os homens tinham seu prazer centrado em seus genitais, ao envelhecer deparam com a necessidade de explorar outras fontes de satisfação sexual como, por exemplo, dando vazão às fantasias eróticas, prolongando as carícias no corpo de sua parceira e permitindo que ela explore diferentes regiões de seu corpo.

Essa nova maneira de experimentar o encontro sexual poderá aproximar o homem da sexualidade feminina, na qual as determinantes psíquicas sempre foram um forte componente para a satisfação e o prazer durante o encontro sexual. Reconhecendo, aceitando e adaptando-se a essas modificações, homens e mulheres poderão desenvolver uma grande intimidade consigo mesmo, como o outro e degustar novos e diferentes sabores da vida a dois.

Por Cristina Romualdo, psicóloga, psicodramatista e terapeuta sexual; mestre em ciências da saúde pela Unifesp, escreveu Masturbação (Expressão e Arte, 2004) e é co-autora de Sexualidade na família (Expressão e Arte, 2007).

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