domingo, 26 de abril de 2009

Hipertensão é uma vilã subestimada



O dia 26 de abril é lembrado por ser a data nacional de combate à hipertensão arterial, distúrbio que faz parte da chamada síndrome metabólica e que ajuda a aumentar, significativamente, os riscos de derrames e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), doenças com alta taxa de mortalidade no Brasil.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Hipertensão, a conhecida “pressão alta”, atinge mais de 50% dos brasileiros idosos e começa a causar preocupação entre os mais jovens também.

As entidades apontam que cerca de 40 milhões de brasileiros sofrem dessa enfermidade
, uma das principais causas de mortalidade no mundo. A hipertensão arterial é uma das maiores vilãs da saúde pública, pois potencializa doenças graves.

Outro levantamento dessas entidades atesta que metade das pessoas hipertensas desiste ao fim do primeiro ano de tratamento ou desconhecem ser portadores da doença.

Cerca de 20% de todos pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apresentam hipertensão como causa direta ou indireta de internação, sendo que 170 mil mortes por ano estão relacionadas à pressão alta.

Rotina rígida

De acordo com o cardiologista do Curitiba Santa Casa/Dasa, Eduardo Tassi, o coração bombeia o sangue por meio das artérias, que levam o sangue oxigenado a todas as células do organismo.

A força exercida pelo coração ao se contrair (sístole) e ao se relaxar (diástole) impulsiona o sangue, gerando uma pressão na parede das artérias que pode ser aferida por meio de aparelhos de pressão.

“Por consenso, quando a pressão arterial está acima de 140x90 mmHg em mais de duas aferições espaçadas por uma semana é feito o diagnóstico de hipertensão arterial”, explica o médico.

A partir desse momento, o paciente necessitará de tratamento, seja medicamentoso ou não. “O que faz da hipertensão tão perigosa é que ela é assintomática, assim, quando o portador percebe, pode fica surpreso ao saber que poderia estar convivendo com o distúrbio há anos”, esclarece o especialista.

Com efeito, o fato de produzir sintomas, na maioria das vezes, imperceptíveis, faz com que o paciente já em tratamento não cumpra à recomendação médica, por achar que já está curado.

Uma das causas do abandono do tratamento é a necessidade de cumprir uma rotina rígida que inclui a ingestão de medicamentos específicos e uma mudança muitas vezes radical no estilo de vida”, observa o cardiologista Marcos Augusto Alves Pereira, do Hospital Pilar.

Degeneração vascular

Causada muitas vezes por fator hereditário, a doença pode também ser fruto de hábitos pouco saudáveis ou de uma má qualidade de vida. É o que esclarece o cardiologista Everton Dombeck, do Hospital Cardiológico Costantini.

Segundo o especialista, o paciente que inicia a prática de exercícios físicos e faz uma reeducação alimentar pode melhorar sua condição clínica e ajudar muito no tratamento.

Para alguns hipertensos leves essas medidas podem ser suficientes para o controle adequado da pressão arterial, dispensando inclusive o uso de medicamentos”, ressalta.

A hipertensão arterial é uma doença crônica degenerativa. Ela afeta, principalmente, órgãos importantes e vitais, como coração, rins e cérebro. Ao comprometê-los, facilita o surgimento de doenças mais graves, como o acidente vascular cerebral (AVC ou derrame), o infarto do miocárdio e a insuficiência cardíaca e renal.

“Isso porque a hipertensão provoca uma degeneração vascular e, esse quadro, causa pequenas lesões e traumas nas paredes dos vasos, que podem favorecer o acúmulo de gorduras ou processos inflamatórios, deflagrando a doença aterosclerótica”, alerta Dombeck.



Hipertensão aumenta entre jovens, dizem estudiosos
Para se ter uma idéia da importância de se controlar a hipertensão, estima-se que um homem de 35 anos, com pressão arterial de 150/100 mmHg que não tenha a doença tratada, tem subtraído perto de 15 anos da sua expectativa de vida. A falta da cultura da prevenção é o principal motivo dos números continuarem alarmantes.

“Um simples check-up poderia salvá-lo do que, um dia, pode se transformar em um infarto agudo, explica o cardiologista Marcos Bubna. A partir do diagnóstico da doença, medidas simples de prevenção já conhecidas pela maioria das pessoas podem ajudar a controlar a pressão arterial. “Basta adotar uma dieta com baixos índices de gordura, rica em potássio e menos sal, além de exercícios físicos regulares, controle de peso e auxílio de medicamentos prescritos por médicos”, recomenda.

Ruim para os órgãos

Coração - A hipertrofia do ventrículo esquerdo (espessamento anormal músculo cardíaco) é uma das primeiras anormalidades cardíacas decorrentes da hipertensão arterial.

A presença desse distúrbio em pacientes hipertensos confere um pior prognóstico, ou seja, um maior risco de outras complicações cardiovasculares, como o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e derrame cerebral.

Outras complicações cardíacas advindas da hipertensão arterial são angina do peito, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, os distúrbios da condução elétrica do coração e as arritmias cardíacas.

Cérebro - A hipertensão pode ocasionar isquemia cerebral transitória - disfunção neurológica reversível - ou acidente vascular cerebral, disfunção mais duradoura, podendo deixar sequelas graves, com a perda progressiva das funções mentais, entre elas, a memória e a concentração.

Rins - A hipertensão arterial crônica leva a uma disfunção renal, inicialmente detectada por meio de pequenas perdas urinárias de proteínas. Com o passar do tempo, essa perda poderá tornar-se crescente, podendo ocasionar insuficiência renal crônica.

Vasos - A aterosclerose (formação de placas de gordura ou ateromas na parede das artérias) e as doenças da aorta estão diretamente relacionadas à hipertensão arterial crônica.

Olhos - A hipertensão arterial acarreta um comprometimento da retina (retinopatia hipertensiva), podendo levar à cegueira.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Morte por câncer cresce em mulheres jovens

O modo de vida da mulher moderna alterou o ranking das causas de morte. O Ministério da Saúde divulgou na quinta-feira (6) o mapa da mortalidade feminina na idade fértil, entre 10 anos e 49 anos, e revela que os cânceres já formam o grupo de doenças que mais matam, responsáveis por 23% dos casos. Os tumores malignos desbancaram os antes líderes "problemas do aparelho circulatório", que incluem enfartes e derrames, (hoje com 21%).

Os hábitos de vida são apontados como responsáveis pela mudança. Os casos analisados são referentes ao ano de 2005. Nas causas específicas de mortes antes dos 50 anos, os acidentes de carro ganham destaque e ocupam o segundo lugar, perdendo apenas para os derrames.

Cigarro, vida corrida, falta de atividade física, alimentação nada saudável e adiamento da maternidade. Essa é a receita apontada por Luiz Henrique Gebrim, diretor do Hospital Estadual Pérola Byington - referência nacional no tratamento do câncer - para o aparecimento precoce dos tumores. "Além do diagnóstico hoje ser melhor, as mulheres fumam mais e são mais sedentárias, o que aumenta o risco precoce." As informações são do Jornal da Tarde.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Reduzir bebida emagrece mais do que cortar comida, diz pesquisa

JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo, 06/04/2009 - 12h04

As calorias ingeridas por meio de bebidas influenciam mais na perda de peso do que aquelas consumidas por alimentos sólidos. A constatação vem de um estudo da Johns Hopkins School of Medicine, que avaliou 810 adultos com idades entre 25 e 79 anos.

Os pesquisadores acompanharam os voluntários por 18 meses e monitoraram a redução de consumo de líquidos e alimentos sólidos. Nos primeiros seis meses, observaram que a redução de somente uma porção de bebidas açucaradas (como refrigerantes e sucos industrializados) foi responsável, isoladamente, pela perda de meio quilo no período.



Já a diminuição de peso foi cinco vezes menor quando houve restrição da mesma quantidade de calorias ingeridas por alimentos sólidos. "A hipótese é que regulamos melhor a ingestão de calorias sólidas do que de líquidas. Isso significa que é mais fácil exagerar quando bebemos do que quando comemos", disse à Folha Benjamin Caballero, professor da Johns Hopkins e líder do estudo.

Para especialistas brasileiros, as calorias ingeridas por bebidas geralmente não são contabilizadas e levam ao exagero de consumo. "Essas calorias são importantes, principalmente se falarmos dos refrigerantes, que têm excesso de açúcar. O consumo dessas bebidas tem crescido em países em desenvolvimento e está nitidamente relacionado à obesidade", diz o endocrinologista Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

O primeiro mecanismo de regulação da saciedade começa na mastigação e é uma das hipóteses para o explicar por que é mais difícil regular a ingestão de bebidas do que de alimentos sólidos. Ao mastigar e deglutir um alimento, são estimuladas regiões no cérebro responsáveis por regular a satisfação. Outra hipótese está no açúcar presente em boa parte dos líquidos ingeridos. Essa substância é um carboidrato simples de rápida absorção e estimula a produção de insulina, um hormônio que favorece o estoque da energia ingerida em forma de gordura. "A ingestão do mesmo valor calórico em proteínas não engordaria tanto", diz Coutinho.

Editoria de Arte/Folha Imagem

Erros

Entre os principais erros apontados pelos especialistas, está a ideia de que suco de frutas tem poucas calorias. "Quando a pessoa precisa perder peso, a opção é sempre ingerir bebidas não calóricas ou usar sucos com muito poucas calorias, como de acerola, limão e maracujá", diz o endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

Outro problema, aponta Mancini, está no uso de isotônicos quando a prática de exercícios não é intensa. Um frasco desse tipo de bebida contém cerca de cem calorias, quase o mesma quantidade presente em um copo de refrigerante. Segundo o especialista, a única bebida com calorias essencial ao organismo é o leite de vaca, por ser fonte de cálcio.

Álcool

Bebidas alcoólicas têm um processo de absorção diferenciado e, no estudo da Johns Hopkins, não exerceram influência na perda de peso de maneira significativa. Isso porque o organismo não tem capacidade de transformar o álcool presente na bebida em gordura. No entanto, bebidas fermentadas e coquetéis oferecem calorias por meio de outras substâncias presentes no líquido.

"No caso do vinho ou cerveja, por exemplo, metade das calorias são normalmente absorvidas pelo organismo", lembra Mancini. Os coquetéis oferecem calorias por meio do açúcar e de outros ingredientes utilizados na preparação.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A fé que faz bem à saúde

Novos estudos mostram que o cérebro é “programado” para acreditar em Deus – e que isso nos ajuda a viver mais e melhor.


Andrew Newberg - “O cérebro dos ateus é diferente”

O neurocientista fala sobre seu livro Como Deus muda seu cérebro
ÉPOCA – Como Deus pode mudar a estrutura cerebral das pessoas?
Andrew Newberg
– Os nossos estudos usando imagens do cérebro mostram que, no longo prazo, há alterações no lobo frontal (relacionado à memória e à regulação das emoções) e no sistema límbico (ligado às emoções). As pessoas tendem a conseguir controlar mais suas emoções e expressá-las. A meditação e a oração ajudam a melhorar a relação consigo mesmo e com os outros. Também especulamos que essas práticas alteram, inclusive, a química cerebral, como os níveis de serotonina e dopamina, que regulam nosso humor, nossa memória e o funcionamento geral de nosso corpo, mas ainda não temos provas disso.

ÉPOCA – Em seu livro, o senhor fala bastante da meditação, uma prática tradicionalmente ligada às religiões orientais. Existe alguma diferença entre, por exemplo, o catolicismo e o budismo?
Newberg
– Não olhamos exatamente para as diferenças entre as religiões, mas para as diferentes práticas. A forma como você pratica a religião é mais importante que as ideias religiosas em si.

ÉPOCA – Há um consenso entre os cientistas de que a fé pode ajudar na manutenção da saúde?
Newberg –
Muitos cientistas acreditam que a espiritualidade tem um papel na saúde. A pergunta é quem vai administrar isso e como os profissionais de saúde vão lidar com a espiritualidade de uma maneira apropriada e benéfica. Essas questões ainda não foram respondidas.

ÉPOCA – Há alguma diferença neurológica entre aqueles que creem e os que não creem em Deus?
Newberg
– Encontramos algumas diferenças, sim, e também notamos diferenças dependendo do tipo de prática religiosa. O problema é que nunca sabemos se aquelas mudanças estão lá porque a pessoa é religiosa há muito tempo ou se ela nasceu daquela maneira e, por causa disso, procurou um tipo de religião ou meditação.

Jordan Grafman - “A crença é necessária”

O neurocientista diz que o pensamento religioso nasceu junto com o cérebro humano


ÉPOCA – O senhor diria que a religião é um produto acidental de nosso processo evolutivo?
Jordan Grafman –
Eu não diria acidental. Existe uma tendência para nós pensarmos de certa maneira, e essa maneira, de alguma forma, envolve a necessidade de ter um sistema de crenças. E esse sistema guia nosso comportamento social. Acredito que estamos constantemente criando novos tipos de sistema de crença e é muito provável que os primeiros tenham sido baseados em autoridades religiosas.

ÉPOCA – Somos biologicamente predispostos à religião?
Grafman
– Eu diria que somos predispostos biologicamente a ter crenças, e a religiosa é uma delas, mas não a única. Classificaria a religião como uma forma primitiva de crença porque se baseia muito no que é desconhecido. Algumas das regras éticas vieram por meio da religião, mas só se estabeleceram porque ajudaram a ordenar a sociedade. Então, muitas regras tiveram sentido. A religião nasceu claramente de nossa necessidade de entender o que estávamos vendo.

A crença religiosa surgiu no cérebro antes de outras crenças, segundo pesquisas

ÉPOCA – Seu estudo comparou as áreas do cérebro envolvidas nas crenças religiosas e nas crenças políticas. Do ponto de vista neurológico, quais as diferenças entre o pensamento religioso e o político?
Grafman –
Ainda não temos uma resposta definitiva a essa pergunta, mas há fortes indicações de que as crenças políticas estão sempre ligadas ao “aqui e agora”, a nossa vida, enquanto as crenças religiosas não necessariamente. Há diferenças em comportamento e também nas áreas do cérebro ativadas. No caso das crenças políticas, usamos as estruturas do cérebro que surgiram por último na evolução humana, enquanto no caso das crenças religiosas usamos áreas anteriores no desenvolvimento da espécie. Nossa hipótese é que a crença religiosa seja a primeira forma de sistema de crenças, que surgiu antes das outras. Nossos estudos mostram que as duas usam partes parecidas do cérebro, mas também que a religião veio antes da política.